DICA DO DIA

Antes de tudo: Fora Temer!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

DESABAFO!

Nunca daria certo cruzar um cão com uma vaca.
Também não daria certo misturar mostarda no sorvete.
Nenhum de nós cogita usar cachecol no verão
e nem promover um festinha de confraternização entre flamenguistas e vascaínos. 

Isso se chama bom senso.

Se alguém achar o meu, favor devolver. 

sábado, 24 de dezembro de 2011

O PLANO FINAL

Lá, em um lugar imenso, onde se vê a melhor das páginas, e onde não se enxerga nenhuma história, a câmera sensível do diretor encontra seu plano final. Aquele que encerra o conto, que fecha a tampa, e que permite a quem assiste dar o último suspiro, a última piscada lenta de olhos, o adeus a uma vida que não lhe pertence.
É lá, naquele lugar que só a grua enxerga enquanto sobe, e que deixa cada um de nós pequenininho diante do mundo, que o filme avisa: "cheguei ao fim"
Depois a gente já sabe o que vem. As luzes se acendem, aparecem as migalhas de pipoca no chão... Quem é de bolsa recolhe a sua, quem é de choro enxuga o rosto, quem é de sono acorda. 

Lá, naquele pedaço de imensidão que se despede da tela, vive, aflita para ser percebida, a moral da história. 

A gente sabe quando chega lá. Só os distraídos esperam os créditos para entender que a sessão chegou ao fim. Assim são os filmes, e os filmes da vida. Começam com um personagem novo, terminam numa paisagem cada vez mais longe.


Alguns filmes deixam saudade. Alguns filmes deixam vontade. Alguns a gente só entende dias depois, no meio de um papo, num cruzar de idéias ou quando apaga a luz do abajur. 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

"Vou vivendo como sou, e vou sendo como posso" - (Novos Baianos)

Vontade de escrever sobre gente, sobre histórias, sobre casa. Vontade de escrever sobre as Alices que ainda não fui, sobre as que quero ser, sobre as que deixei. Saudade da adolescência, dos meus 20 anos, de uma liberdade nada independente que a gente tinha. Lembranças da casa dos meus pais, e daquelas paredes que penduravam quadros que eu não escolhia.
Peguei uma furadeira emprestada. Vou enfeitar minha casa. Comprei bucha, parafuso...
Saudade das paredes enfeitadas que não eram minhas.
Me lembro da alegria em escolher o tom de amarelo que pintaria minha sala. E da sensação gostosa em trazer pra casa o primeiro tampo de privada. Minha primeira casa. Meu canto.
O tampo da privada descascou. Preciso comprar um novo. Ninguém sabe quantos anos dura um tampo de privada até ter a sua própria.  A gente sabe quantas xícaras de arroz rendem um jantar para dois, e que cera demais mela o chão. Mas não sabe que, se em três anos o tampo da privada não der bolha nem descascar nas extremidades, é porque você deu sorte. Ninguém pensa, quando sonha em morar só, que será dono de uma privada.
Aquela Alice cresceu. A Alice da casa de paredes alheias e a Alice da tinta amarela. Cresceram também as Marianas, as Cristinas, as Renatas, as Lucianas. Cresceu minha bagunça no quartinho de entulho e a rachadura na parede da varanda. Cresceu a vontade de conhecer o Mundo e não só a praia mais perto. Cresceu meu cabelo, meu número de cartões de créditos, minha quantidade de ex.
Tenho 3 ex-empregos, 3 ex-casas, 4 ex-namorados. Somei a isso um ex-marido, um monte de ex-melhores amigos que nunca chegaram à página 2 e os que, estranhamente, sumiram na página 90. Tornei-me ex-invicta em levar pé na bunda e devo ser a ex-paixão avassaladora de um punhado de galalaus.
Saudade dos galalaus.
Eles também cresceram, mudaram a cor da parede e hoje são donos de privada.
Crescer é isso aí. A gente aprende a espantar formiga do armário, a lidar com mofo, molhar plantas. Aprende a tirar mancha de quase tudo, suporta vizinho chato, queima roupa que seca tempo demais no sol.
A pia do banheiro fica pequena para os produtos de pele, cabelo, rugas, os cremes, perfumes, água mineral engarrafada (??? - !!!). Por que a gente acredita nessas coisas depois de velho?
Você sabia que a cada três meses tem que abrir a luminária do ventilador para tirar os bichinhos que morrem lá dentro?
Claro que não!!!
Ninguém sabe disso. Nem o cara que inventou o ventilador sabia. Um dia o dele ficou sujo, e como ele já era crescido, já prendia quadro na parede, era dono de privada e queimava roupa no sol, teve que lidar com mais essa novidade.
A vida é cheia de novidades que não vem escritas nas embalagens.
Podia ter vindo escrito na minha bunda que se eu não malhasse duas vezes por semana ela ficaria horripilante. Não há Procon que resolva esse caso. O jeito é correr atrás do prejuízo, malhar não mais duas, mas 5 vezes e somar algumas despesas em pílulas e cremes que, esses sim, já avisam na embalagem: não fazem milagre.
Taí uma coisa que não existe. Milagre. Se existisse teria outro nome e ninguém passaria a vida esperando por um. Seria como achar trocado em bolso. Isso não é milagre, é sorte. Sorte é uma coisa que todo mundo pode ter, muita gente tem, e uma minoria pessimista gosta de dizer que não conhece. Elas não sabem que já tem sorte em serem suportadas. Gente pessimista é mesmo muito chata!
Por isso, antes de orçar o novo tampo da privada e mesmo com a saudade que será eterna da casa dos meus pais, eu preciso dizer que acordei com um bom humor daqueles!
Adoro ter meu canto e ver que minhas amigas cresceram. Faz bem saber que a falta que elas fazem é fruto de um monte de conquistas que tivemos até aqui e mudaram nosso rumo. Não há bunda perfeita que pague os trinta anos de alegria que vivi até agora, as muitas gargalhadas que dei em noites de fofoca no quarto, a felicidade em dizer sim a um marido que amei muito, e o trabalho danado que deu pra deixar a parede amarelinha!
A gente cresce e a vida vira da gente. A maçaneta que caiu da porta e merece conserto é nossa. Mas também é nossa a porta da frente. A gente abre, fecha e deixa entrar quem a gente quer. É meu o jardim de plantas mal tratadas na varanda, e também é meu o fim do dia. As histórias serão sempre minhas, os amigos estarão sempre no livro, as páginas continuam sendo escritas.
Peguei uma furadeira emprestada. Hoje é dia de prender quadros, comprar tampo de privada, presente de Natal, ajeitar a casa.
Tudo isso sem milagre.
Se tudo der certo, vai dar muita coisa errada.