DICA DO DIA

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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

RELÓGIO PARA SE DAR UM TEMPO

Baseado na charge “Objetos de uso pessoal” de Miguel Paiva.

Anibal saiu de casa esquecendo de usar relógio. Em 35 anos isso só tinha acontecido na infância. Já na porta do prédio reparou o desfalque, mas uma ligação urgente no celular o fez lembrar que estava atrasado. Anibal respirou fundo e, desconfiado de que teria um mal dia, seguiu seu rumo mesmo sem relógio. No meio da tarde Anibal esqueceu de almoçar, lembrou quando já era hora de voltar, demorou mais do que o combinado para retornar todas as suas ligações e acabou perdendo o ônibus que o levaria pra casa. Desesperado e desolado pelo dia desastroso que tivera, fez sinal para o primeiro taxi e embarcou. Bufava ainda mais calculando o estrago que aquela despesa extra causaria no final do mês e, metódico que era, arrependeu-se a duas quadras de casa, quando resolveu parar e seguir andando. Pagou o que devia, saiu do taxi, olhou o relógio que não existia no pulso, suspirou e atravessou a rua. Foi repentinamente atropelado pelo ônibus que passava. O mesmo onde deveria estar se tivesse fechado expediente na hora certa. Na calçada, agonizante, fazia enorme esforço para equilibrar dor, respiração e o ódio que sentia do maldito relógio. Como podia um acessório tão pequeno ter tamanho controle sobre a vida de um homem tão responsável? Pensou mais uma vez nos compromissos que perdeu naquele dia, no tumulto que causou, na fome que sentia, na dor que o massacrava e, quando percebeu precisar de ainda mais controle e atenção para manter-se consciente, Anibal descansou. Decidiu que era hora de dar-se um tempo...Fosse esse o tempo que fosse. Morreu às 18:43.

Um comentário:

  1. vovó Eurídice dizia:
    O tempo passa, a gente reclama que não tem tempo para aproveitar o tempo. Quando a gente para pra aproveitar o tempo que perdeu. Não dá mais tempo porque o tempo... já passou.
    bjo, Moskow

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