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quarta-feira, 30 de março de 2011

Pai e Filha

Relação entre pai e filha é uma relação como nenhuma outra.
Acho que tem a ver com o espírito protetor deles ao verem aquela coisinha pequena nascendo, sabendo de tudo o que os homens pretendem fazer com elas assim que os peitinhos e os pentelhos aparecerem.
É provável que Freud explique melhor....
Me lembro da primeira conversa tive com meu pai quando ele tentatava me explicar a importância da camisinha dias antes do meu primeiro carnaval sozinha - em Olinda!
Ele não estava 100% errado. Olinda era mesmo um OBA OBA! Mas a filha dele não. E acho que ele nunca soube que só precisei puxar da memória aquelas constrangidas explicações anos depois.
Isso é uma coisa curiosa. A gente cria um laço com o pai que nos permite quase tudo. É um colo pra chorar, o colo pra dormir, a pessoa pra quem você quer mostrar sua primeira nota 10 e debater o que decidiu ser quando crescer. Mas você não conta que não é mais virgem, não pede sua opinião masculina sobre o que você deve ou não fazer na cama, e morre de vergonha quando ele descobre que você ficou menstruada ou que já está tomando pílula. É como se a gente deixasse de ser frágil...quase como se não precisássemos mais daquele homem forte e protetor. Tenho quase certeza de que é isso que eles sentem. E arrisco dizer que, no fundo, a gente sente a mesma coisa.
Me lembro de ter sentido as primeiras rachaduras na relação preciosa com meu pai. A primeira vez que levei um namorado pra dormir em casa. Cada primeira vez que ia dormir na casa de um novo namorado. O dia em que não quis dizer onde ia, nem com quem, e nem se voltava...
Quando me casei, uns meses antes, meu pai parecia um tio distante. Morava alí comigo, mas não me abraçava muito, não alimentava mais longas conversas no café da manhã... Um dia entendi que deve ser mesmo difícil, ver a filhota partir, ganhar rumo sozinha, não precisar mais do seu guia, ganhar um novo braço forte onde se apoiar. Aí tivemos uma conversa franca, choramos um bocado aqui e alí e ficamos bem.
Hoje fico pensando que deve ter sido um turbilhão! De repente ela tem 18 anos, de repente já transa, já não quer mais dividir a vida, ouvir conselhos, pedir cafuné. De repente você vê a sua filha solta no Mundo dos Leões do qual você a quis proteger desde a primeira vez que a pegou no colo, lá na maternidade.
E você não tem a mínima idéia de como ela se está se portando nele!!!
Passado o susto, depois que casei, as coisas voltaram ao seu lugar. A começar pela garantia de que estarei sempre aqui, na mesma casa, cuidando das minhas coisas e não avoada e encantada com a o Mundo colorido da juventude. Depois vem a maturidade que nós filhas ganhamos e a leveza que eles, pais já senhores, adquirem.
É como uma combinação perfeita! Se fosse sempre cor de rosa, ficaria chato rápido. Por isso existe a adolescência, por isso existem os tabus, por isso todo jovem é um pouco rebelde e todo pai fica um pouco careca, mesmo que seja cabeludo!  Depois vem a calmaria.... 
Agora converso com meu pai sobre quase, quase tudo. Ainda não conto com sua opinião masculina sobre a minha vida sexual, mas já se foi o pudor de guardá-la pra mim como se ela não existisse. Acho que em seus redondos 60 anos de idade, ele já acha mesmo uma caretice ficarmos fingindo que essas coisas não existem
.
Hoje acordei com um email dele. Dizia, em resumo, que não gostou do texto que postei aqui embaixo.
Pulei da cama! Vim apagar.
Ora bolas, meu pai, a minha mão de toda a vida, meu maior crítico, o que sempre me escreve lindos elogios, em quem sempre confiei, desde a maternidade. Se ele disse, está falado!
Aí reli. E ele tem toda razão. É mesmo um daqueles textos que se fossem escritos a mão e estivessem guardados em uma gaveta, um dia, numa limpa nostálgica, seria rasgado em pedaços e jogado no lixo. Não disse ao que veio, não é esperto, inteligente, curioso, não é nem divertido!
Aí lembrei dessa história toda. Da vida de filha e pai que tivemos. E de quantas coisas fiz até hoje que eu rasgaria e jogaria fora. E de quantas outras mais ele certamente preferia nunca ler a respeito. E lembrei principalmente de quantas vezes discordamos. Quantas vezes brigamos. E quantas vezes nos arrependemos.
Foi então que resolvi deixar o texto. Guardado aqui, como prova da sinceridade que temos um com o outro, do dia (entre tantos outros) em que ele correu pra me proteger, e de como finalmente, passado o furacão da rebeldia, voltamos a nos entender, conversar abertamente, e concordar.

Pai,
daqui a uns anos, ou quem sabe em alguns meses, dou um delete nesse post aqui embaixo. Por enquanto ele fica, como parte da nossa história. Te amo!

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto, pela coragem de postá-lo e principalmente pela sensibilidade em não jogá-lo fora.

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